Quais dores crônicas são mais difíceis de tratar com a fisioterapia?

Nem toda dor crônica responde da mesma forma ao tratamento fisioterapêutico. Algumas são mais desafiadoras, exigindo uma abordagem ainda mais cuidadosa e individualizada. Entre essas, destacam-se as chamadas dores primárias, especialmente aquelas que envolvem mecanismos complexos do sistema nervoso.
O que são dores primárias?
As dores primárias diferem das dores secundárias — estas últimas geralmente têm uma causa identificável, como uma lesão, inflamação ou outra condição clínica subjacente. Já as dores primárias não possuem um motivo aparente, o que torna o tratamento mais difícil.
Essas dores envolvem mecanismos neuroplásticos, ou seja, alterações no funcionamento do próprio sistema nervoso. O corpo passa a interpretar estímulos de forma exagerada, como se tudo fosse dor. Isso é conhecido como hipersensibilidade ou sensibilização central.
O papel da fisioterapia diante dessas dores
A fisioterapia, nesse contexto, enfrenta o desafio de reeducar o corpo e o cérebro. Como o sistema nervoso está mal adaptado, ele responde de forma distorcida até mesmo a estímulos leves. Por isso, o tratamento precisa ser cuidadosamente planejado e ajustado à tolerância e à evolução do paciente.
Síndrome da Dor Regional Complexa: um grande desafio
Dentro desse grupo de dores primárias, uma das mais desafiadoras é a Síndrome da Dor Regional Complexa (SDRC). Trata-se de uma condição crônica e extremamente limitante, que afeta principalmente membros superiores ou inferiores após traumas, cirurgias ou lesões aparentemente simples.
A SDRC é marcada por:
- Dor contínua e intensa
- Episódios de agravamento da dor (picos)
- Inchaço (edema)
- Perda de autonomia funcional
- Alterações na sensibilidade e na temperatura do membro
- Mudanças na coloração e na aparência da pele
- Possível desenvolvimento de deformidades
Além do sofrimento físico, os pacientes com SDRC muitas vezes enfrentam dificuldades no diagnóstico e no acolhimento adequado. Isso ocorre porque a síndrome ainda é pouco conhecida por muitos profissionais de saúde, o que pode atrasar o início de um tratamento eficaz.
A importância de um cuidado individualizado
Dores como a SDRC exigem não só conhecimento técnico, mas também escuta, empatia e paciência. O fisioterapeuta precisa adaptar os exercícios à condição do paciente, respeitando os limites do momento e criando estratégias que tragam segurança ao paciente.
O principal objetivo é oferecer experiências positivas com o movimento — mesmo que discretas — para que, pouco a pouco, o corpo e o cérebro possam reconstruir uma relação menos dolorosa com o próprio movimento.
Esse texto foi desenvolvido com base na conversa entre o Dr. João Rizzo e a Dra. Adriana Coltro, disponível na íntegra no YouTube do Projeto Educa Dor, além das plataformas de streaming em formato podcast de áudio.