A utilização de bengalas

17 de março de 2021
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– “Mais atrapalha do que ajuda”
– “Não tenho as mãos livres, torna tudo mais difícil de fazer, não tem como abrir o fecho da bolsa e se apoiar na bengala ao mesmo tempo”
– “Elas não param de pé, é eu me sentar e a bengala se atira no chão”
– “Ainda não me sinto tão velho”

Essas foram algumas das falas que escutei ao tentar prescrever o uso de bengalas para pacientes idosos. A bengala é comprovadamente um acessório que auxilia na locomoção de quem tem dificuldades leves na marcha. Como por exemplo, falta de equilíbrio para caminhar em locais mais amplos e mais movimentados, necessidade de apoio para subir um cordão de calçada ou uma rampa, um joelho que não tolera sustentar o peso do corpo na fase de apoio total da marcha.

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São situações que atrapalham, mas que, em tese, não impediriam que o idoso tenha independência para se deslocar. Principalmente se ele se valer da ajuda de uma bengala. Quando essa fragilidade é temporária, como no caso da maioria das lesões ortopédicas, por exemplo, não encontro objeção na prescrição desses acessórios. Pelo contrário, as bengalas e muletas são bem vindas, associadas a possibilidade de locomoção, de melhora, de mais uma etapa da reabilitação vencida. Sinalizam a possibilidade de volta à vida de antes.

Então porque os idosos apresentam tanta resistência? Talvez porque na velhice seja diferente. A introdução desses acessórios apontam para o fato de que temos necessidades das quais não damos mais conta sozinhos. O declínio do corpo é inerente ao curso de uma vida longa. Por mais que possamos influenciar esse processo positiva ou negativamente, envelhecer ainda é inevitável.

Muitas das perdas que se impõem ao longo desse período da vida tendem a ser definitivas. Parar de dirigir, precisar de ajuda para algumas tarefas, precisar de bengalas para se locomover. É possível que recusar a bengala esteja associado a recusa da própria velhice. Muitas vezes essa recusa é parte da motivação para seguir em frente, para encarar uma série de exercícios para melhorar a força, por exemplo. É onde não nos damos por vencidos.

A questão talvez seja poder refletir até onde resistir é salutar. Em que ponto da trajetória a recusa ao uso da bengala passa a impor restrições tão importantes como não caminhar, não sair de casa. É comum que essas condições impostas pelo corpo se confundam com falta de vontade, com desânimo. Precisamos estar atentos a isso. Usar bengala é chato, mas restringir a vida além do necessário, pode ser pior.

Texto por: Dra. Adriana Fernanda Coltro – CREFITO5/5715-F

Créditos da imagem: Freepik

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