Síndrome da Hipermobilidade Articular

3 de novembro de 2021
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Também conhecida como frouxidão ligamentar, a Síndrome da Hipermobilidade Articular (SHA) é uma desordem hereditária do tecido conectivo que gera, entre outras características, um aumento da mobilidade articular.

O diagnóstico de Síndrome da Hipermobilidade Articular é clínico, feito por exclusão de patologias que levam à frouxidão ligamentar como, por exemplo, algumas doenças reumatológicas ou patologias como a Síndrome de Marfan, a Síndrome de Ehlers-Danlos, entre outras. O diagnóstico é baseado em um escore criado em 1973, chamado escore de Beighton. É uma pontuação atribuída a algumas características relacionadas à mobilidade articular, sendo elas: 1) a dorsiflexão passiva do dedo mínimo > ou = a 90 graus; 2) hiperextensão passiva do polegar chegando a ficar paralelo ao antebraço; 3) hiperextensão do cotovelo > ou = a 10 graus; 4) hiperextensão do joelho > ou = a 10 graus; 5) encostar as palmas das mãos no chão com os joelhos estendidos. Todos os testes, que podem ser feitos bilateralmente, contam 2 pontos no escore, chegando a um total de 9 pontos. Se o teste tiver um resultado maior ou igual a 4 pontos, é considerado positivo.

Em 1998, Brighton acrescentou outros critérios ao escore de Beighton, criando uma classificação mais abrangente que é usada para estabelecer com mais clareza o diagnóstico de SHA. De acordo com esses critérios, vamos encontrar diferentes graus de hipermobilidade. Portanto, existem pessoas que apesar de serem hipermóveis não chegam a desenvolver sintomas.

Então, por que nos preocuparmos com isso? 

Quando extrapolamos os limites de uma articulação, a tornamos mais suscetível a lesões. A manutenção da congruência articular, do encaixe adequado dos ossos e da estabilidade das articulações durante a execução dos movimentos é função dos ligamentos, músculos, tendões e do formato dos ossos que as compõem.

Essas estruturas também fazem parte de um mecanismo chamado propriocepção. Os ligamentos, músculos e tendões, informam ao nosso cérebro sobre a nossa posição no espaço. Isso evita que fiquemos mal posicionados ou que fiquemos em uma dada postura por longos períodos, nos ajudando a manter o conjunto em ordem.

Na pessoa com SHA esse mecanismo fica prejudicado. Para ela é fácil, e às vezes até divertido, se colocar em posições extremas. Como o limite de amplitude das articulações está aumentado, a percepção de risco que isso envolve também fica alterada. Sabemos que ao permanecermos por um tempo prolongado em uma dada posição, produzimos alterações temporárias nas partes moles que estão sob a pressão do nosso peso corporal. Dependendo do tempo de permanência e de quão extremas são essas posições, é possível termos dificuldades para sair delas. Na frouxidão ligamentar, onde não contamos com a proteção do limite imposto pelos ligamentos, essas situações podem levar a luxação ou subluxação articular.

Muitas pessoas com essa síndrome acabam sendo diagnosticadas tardiamente. Na maioria das vezes, elas buscam ajuda quando já apresentam problemas como dores e lesões músculo-esqueléticas que são tratadas sem que se considere a hipermobilidade como parte integrante desses quadros lesionais. O diagnóstico ajuda o paciente a se proteger, a buscar ajuda adequada, a tomar decisões pertinentes a sua condição. É comum que se considere uma coisa boa ter tanta mobilidade. Muitas vezes o próprio paciente não associa seus desconfortos a sua condição de hipermóvel. Além disso, dependendo da atividade que a pessoa desempenha, do esporte que ela pratica, da forma como ela lida com essa característica de ser tão elástica, do quão informada ela está sobre os cuidados que ela deveria ter, ela vai estar mais ou menos exposta a se machucar.

A pessoa com SHA tem indicação de fazer atividade física regular. O aumento da força e do volume dos músculos protege as articulações, favorecendo a contenção do excesso de elasticidade. Embora os exercícios de força sejam indicados, é comum que essas pessoas acabem desistindo de se exercitar. Elas frequentemente relatam piora ou surgimento de dor ao tentarem dar início aos treinamentos.

Por isso é tão importante que os exercícios sejam muito bem prescritos e que o paciente tenha conhecimento do seu diagnóstico e das suas implicações. Questões como consciência corporal, adequação de amplitude de movimento, ajuste de carga a ser aplicada, controle da velocidade de execução dos exercícios, são essenciais para se obter os benefícios desejados.

Referência: Simpson MR. Benign Joint Hypermobility Syndrome: Evaluation, Diagnosis and Management. J Am Osteopathic Assoc, 2006,106:531-36.

Texto por: Dra. Adriana Fernanda Coltro – CREFITO5/5715-F

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