Como a fisioterapia ajuda o paciente com dor crônica a recuperar movimentos e autonomia sem aumentar a dor?

Lidar com a dor crônica vai muito além do sintoma físico. Para muitos pacientes, o medo do movimento — também conhecido como cinesiofobia — é um obstáculo real e presente no dia a dia. A dúvida que surge com frequência é: “Se movimentar dói, então não seria melhor evitar o movimento?” A resposta, embora pareça contraintuitiva, está justamente no movimento guiado e orientado — e é aí que entra a atuação cuidadosa da fisioterapia.
O medo do movimento: um ciclo vicioso
O medo do movimento é comum entre pacientes com dor crônica. Isso acontece porque, muitas vezes, o ato de se mover realmente provoca dor. Assim, de forma instintiva, a pessoa passa a evitar o movimento, acreditando que isso impedirá a piora. No entanto, o resultado é exatamente o oposto.
Ao deixar de se mover, o corpo perde função e mobilidade. Com o tempo, a capacidade física se deteriora, o paciente fica mais sensível, e até mesmo movimentos simples passam a causar dor. Esse ciclo de evitação e piora cria o que podemos chamar de “ladeira abaixo”: a dor gera medo, o medo leva à imobilidade, e a imobilidade intensifica a dor.
A importância da experiência positiva com o movimento
Na fisioterapia, não há um protocolo único para lidar com esse medo. Cada paciente, cada patologia, e até mesmo cada sessão representa um novo desafio. O objetivo principal é oferecer uma experiência positiva com o movimento, ainda que pequena. Em casos como o de pacientes com fibromialgia, por exemplo, uma simples caminhada de dois minutos pode ser um avanço significativo, desde que não gere dor persistente após a atividade.
Nem toda dor é ruim, e nem todo desconforto é prejudicial. Mas pacientes com dor crônica frequentemente apresentam hipervigilância, um estado de alerta constante em relação ao corpo e suas sensações. Isso faz com que pequenas dores se tornem grandes ameaças, reforçando ainda mais o medo de se movimentar.
Educação: um pilar fundamental
Para quebrar esse ciclo, o primeiro passo é educar o paciente. Não se trata de dar uma aula teórica, mas de oferecer explicações simples e claras sobre o que é esperado, o que é normal e o que pode acontecer durante a reabilitação.
Essa compreensão ajuda o paciente a transitar pelas sensações com mais segurança e menos medo. Afinal, o medo se alimenta da incerteza — e o conhecimento traz clareza.
A construção da tolerância ao movimento
Na fisioterapia, não trabalhamos com restrições fixas, mas com tolerância progressiva. A pergunta “O que eu posso ou não posso fazer?” muitas vezes não tem uma resposta direta. Em geral, o paciente pode tudo — desde que se respeite a tolerância do seu corpo naquele momento.
A ideia é começar com algo que o paciente consiga executar com o mínimo de desconforto possível, e repetir essa experiência positiva. Com o tempo, o corpo aprende a tolerar mais, e o emocional também se fortalece. O medo precisa de provas: provas de que se movimentar não significa piorar. E essas provas só surgem na prática.
Comunicação e escuta: aliados do tratamento
Um ponto frequentemente negligenciado é a comunicação entre paciente e fisioterapeuta. Quando o paciente relata que “sai da fisioterapia pior”, é fundamental investigar. Será que o exercício está adequado? Talvez seja preciso ajustar o tipo, a intensidade ou até a frequência do movimento.
Existem diferentes tipos de exercício: mobilizações suaves, exercícios aeróbicos, resistidos… e cada paciente, em cada fase do seu quadro, pode responder melhor a uma abordagem específica. O importante é não desistir, mas sim ajustar o caminho.
Esse texto foi desenvolvido com base na conversa entre o Dr. João Rizzo e a Dra. Adriana Coltro, disponível na íntegra no YouTube do Projeto Educa Dor, além das plataformas de streaming em formato podcast de áudio.