Dor: Invisível, pessoal e intransferível
Como conviver com uma pessoa que tem dor crônica? Quem tem em casa uma pessoa com um quadro doloroso crônico enfrenta uma série de dificuldades. A começar pela falta de um exame de laboratório, um raio x, uma tomografia, qualquer indício que mostre esse problema. Para sabermos, precisamos que quem sente a dor nos conte, descrevendo o que sente da forma mais sincera possível. Vale a máxima: quem se queixa de dor, tem dor.
Além de ser invisível, a dor é pessoal. Cada um sabe de suas capacidades e limitações. O que para uns parece fácil, para outros pode parecer um trabalho hercúleo. E isso é assim mesmo, não quer dizer que alguém está “certo” e outro alguém está “errado”. Cada indivíduo sabe de si.
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O que nos leva ao terceiro aspecto: a dor é intransferível. Não conseguimos saber o que a outra pessoa sente, mesmo que os sentimentos e sensações físicas sejam descritos em detalhe.
Com o tempo, pode ocorrer um certo padrão de relacionamento nas famílias e nos casais, quando uma pessoa dessa família apresenta um quadro doloroso crônico. Há um desgaste nos relacionamentos, que passam a girar em torno do binômio “com dor x sem dor”.
Nessas situações, quando a pessoa que tem dor está bem, os familiares se tranquilizam e se voltam para seus interesses e afazeres. Quando o desgaste das relações é intenso, esses interesses já não incluem a pessoa que tem dor, deixando-a, muitas vezes, por sua própria conta. Esse alívio dos familiares pode ser percebido como um aparente “abandono” pelo paciente. Quando o paciente está se queixando de dor, recebe atenção através da oferta de cuidados, como medicação, massagens, bolsa quente/fria, etc.
Esse ciclo acaba por reforçar, de forma inconsciente e totalmente involuntária, o comportamento de queixa dolorosa. É o momento em que parece que o paciente “se queixa para chamar a atenção”, entre aspas porque uma queixa de dor precisa sempre ser levada a sério.
O que fazer?
Mudar o foco. Prestar atenção aos momentos sem dor para desenvolver atividades, assistir televisão juntos, cozinhar juntos, qualquer atividade que seja possível fazer em conjunto de forma prazerosa.
Momentos de dor? Vão existir. Mas não devem ser a prioridade na convivência. Deixe para o paciente o ato de cuidar-se: quanto maior a autonomia no próprio cuidado, menos a dor interferirá nos relacionamentos da família.
Texto por: Lorena Caleffi – CREMERS 17211
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