Dor e COVID-19

19 de maio de 2021
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A chegada de um novo coronavírus em dezembro de 2019 na China, chamado SARS-CoV2 ou COVID-19, e sua rápida propagação por todo mundo levando ao estado de pandemia, vem provocando diversas preocupações tanto no âmbito da saúde como impacto econômico e social.

A preocupação maior se dá, principalmente, pelo alto índice de contágio e complicações relacionadas aos sintomas respiratórios e em outros órgãos. 

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Sabe-se que, durante a infecção aguda. são comuns os seguintes sintomas: tosse, febre, dor de garganta, falta de ar, sintomas gastrointestinais, dores músculoesqueléticas (dores musculares; artralgias; fadiga), perda de olfato e alterações no paladar. Porém, as informações ainda são limitadas no que se refere à persistência de alguns sintomas após recuperação da COVID-19, dentre eles vários quadros dolorosos que fazem parte da chamada síndrome pós-COVID ou COVID longo.

O que é a síndrome pós-COVID ou COVID longo e como se manifestam?

O conceito comumente aceito é de sintomas que persistem após o período de 28 dias da infecção aguda, representada pela data de positivação do teste de PCR (swab nasofaríngeo).

Estudos que seguiram pacientes recuperados da COVID-19 durante períodos de 2 a 4 meses, mostraram que  44% apresentaram algum impacto negativo em sua qualidade de vida. Alguns desses sintomas podem ser contínuos, outros apresentam períodos de melhora intercalados com períodos de piora.

Os sintomas que mais persistiram no período estudado foram:

  • Fadiga 
  • Falta de ar/ “respiração curta”
  • Dores articulares
  • Dor torácica e dor para respirar
  • Tosse
  • Perda de olfato
  • Dor de cabeça
  • Queda de cabelo
  • Dores musculares
  • Perda de memória

Podemos predizer quem está mais predisposto a desenvolver quadros de sintomas persistentes?

Casos graves da doença, que exigiram internação e UTI, tendem a abalar mais o organismo a longo prazo. Mas, o que se tem observado é que mesmo os casos com sintomas leves podem ter um impacto pós-COVID relativamente agressivo, com sequelas prolongadas. 

A causa dos sintomas pode ser decorrente da infecção direta do coronavírus nos órgãos ou por intermédio dos mecanismos de imunidade; pois para combater a infecção, o sistema imunológico desencadeia um processo inflamatório que, por vezes, pode se tornar bastante intenso, causando uma série de lesões e danos nos diferentes órgãos e sistemas do próprio corpo.

Nos pulmões, onde a batalha contra o Sars-CoV-2 é mais intensa, restam fibroses, uma espécie de cicatriz, que atrapalham a respiração e podem colaborar para a piora do cansaço e da sensação de falta de ar.  

A fadiga, o cansaço e a dificuldade de fazer movimentos simples são alguns dos problemas mais comuns nos estudos. E isso não é apenas resultado das lesões pulmonares. Durante a tempestade inflamatória, a liberação de citocinas e outros componentes da inflamação atacam os músculos e articulações, gerando dores e a sensação de fraqueza. 

Um dos sistemas mais afetados pelo SARS Cov-2 é o sistema nervoso, o que explicaria uma série de sintomas persistentes, tais como dor de cabeça, aumento ou alterações da sensibilidade dolorosa em determinadas regiões da pele, fraqueza, perda de massa muscular e fadiga. O próprio sistema nervoso, que comanda o tecido muscular, pode ser afetado pela inflamação ou pelo vírus em si, o que só piora a situação. 

Os tratamentos instituídos e muitos dos fármacos utilizados na fase aguda da Covid-19, especialmente em pacientes mais graves e que necessitaram de internação hospitalar em CTI’s e ventilação mecânica, podem ser responsáveis por algumas alterações que determinam a persistência dos sintomas e de quadros dolorosos crônicos.

Para os internados, que tendem a sofrer uma perda muscular significativa, surgem desafios maiores. A diminuição da massa magra afeta a mobilidade e, ainda por cima, atrapalha o retorno do sangue dos membros inferiores para o coração. Isso potencializa a dor, o cansaço e eleva a probabilidade de trombose. Falando em circulação, os vasos sanguíneos ficam abalados após a tempestade inflamatória, por isso, o risco de entupimentos que levam ao infarto e ao AVC aumenta. 

Além do impacto direto da infecção nos órgãos e sistemas que evoluem como uma síndrome pós-viral, onde a dor crônica é manifestação comum e frequente, existem ainda outros fatores a serem considerados e que poderão influenciar de forma negativa pacientes que sofrem de dor. Um deles seria a exacerbação de quadros de dor crônica preexistentes ou então o início de um novo quadro, mesmo na ausência de uma infecção por COVID. Isso porque, com o cenário pandêmico que se instalou, houve uma exacerbação dos fatores de risco responsáveis pela geração ou manutenção de dor crônica, tais como, piora ou privação do sono, isolamento social, inatividade, sedentarismo, ansiedade, piora de sintomas depressivos. O acesso a serviços médicos tornou-se mais difícil, com menos profissionais trabalhando ou sendo realocados para trabalharem nos serviços voltados ao atendimento da pandemia. Serviços foram fechados, tratamentos e revisões de rotina postergados, tratamentos físicos e fisioterapias interrompidos, fármacos estiveram em falta ou com dificuldade de reposição nas farmácias, algumas pessoas tiveram dificuldades em ter acesso a receitas de controle especial. Além disso tudo, os medos e preocupações com o presente, as indefinições do futuro, piora da crise econômica, perda de empregos e perda de planos de saúde podem colaborar com a piora ou serem gatilhos para novos casos dolorosos crônicos.

As sequelas da COVID-19, em termos de piora dos quadros dolorosos, podem ocorrer não apenas nos pacientes infectados e que sobrevivem à infecção, mas também em toda a comunidade que vivencia os efeitos psicológicos, sociais e econômicos deste contexto.

O que fazer quando apresentar sintomas persistentes pós-COVID?

Cada pessoa apresenta um conjunto de manifestações diferentes onde os sintomas são resultado de uma interação dinâmica de fatores biológicos, psicológicos e sociais. A avaliação multidisciplinar é de grande importância e envolve os diferentes profissionais da saúde: fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, médicos, etc.

Ainda estão sendo estudadas as várias sequelas da COVID-19 e seu impacto na qualidade de vida das pessoas e nos sistemas de saúde. A maior parte dos quadros parece se resolver com o tempo, embora não se saiba exatamente que tempo é este, e alguns podem ser permanentes. Agir rápido e receber a assistência correta faz a diferença. 

Referências:

  1. Carfì A, Bernabei R, Landi F, Gemelli – Against COVID-19 Post-Acute Care Study Group. Persistent Symptoms in Patients After Acute COVID-19. JAMA. 2020 Aug 11;324(6):603-605. doi: 10.1001/jama.2020.12603
  2. Bolay H, Gül A, Baykan B. COVID-19 is a Real Headache! Headache. 2020 Jul;60(7):1415-1421. doi: 10.1111/head.13856. Epub 2020 May 27
  3. Niazkar HR, Zibaee B, Nasimi A, Bahri N. The neurological manifestations of COVID-19: a review article.
  4. Mendelson M, Nel J, Blumberg L, Madhi SA, Dryden M, Stevens W, Venter FWD. Long-COVID: An evolving problem with an extensive impact. S Afr Med J. 2020 Nov 23;111(1):10-12. doi: 10.7196/SAMJ.2020.v111i11.15433.

 

Texto por: Dra. Monia Di Lara Dias – CREMERS 24449

Créditos da Imagem: Envato Elements

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