As “Accabadoras” da Sardenha: Entre o Mito e o Cuidado no Fim da Vida

Nas regiões rurais da ilha de Sardenha, na Itália, especialmente entre os séculos XVIII e XIX, existia uma figura misteriosa e respeitada: a “sa femina accabadora” — a mulher que termina.
Segundo a tradição, essas mulheres eram chamadas quando alguém estava em fase terminal de uma doença, em sofrimento extremo, sem possibilidade de cura. A accabadora entrava em silêncio no quarto do doente, muitas vezes à noite, e, segundo a lenda, colocava fim ao sofrimento, seja com uma prece, um toque… ou, em versões mais sombrias, com um golpe certeiro com um bastão de madeira, chamado “mazzolu”.
Mito ou realidade?
A história das accabadoras é envolta em mistério. Não há documentos oficiais que comprovem essa prática, mas o tema foi passado de geração em geração — e até hoje existe um museu em Luras, na Sardenha, que exibe um suposto “bastão de accabadora” ou “mazzolu”.
Independentemente de sua veracidade literal, essa figura representa algo muito atual: a angústia de ver alguém sofrer sem alívio, sem dignidade, e o desejo de proporcionar-lhe uma morte mais digna.
E hoje?
Hoje temos os cuidados paliativos, uma área da saúde voltada justamente para oferecer alívio da dor e sofrimento físico, emocional e espiritual no fim da vida. Esses cuidados respeitam a autonomia do paciente, os valores da família e os princípios éticos da medicina.
Discutir sobre qualidade de vida e autonomia até o fim é essencial — e continua sendo um tema delicado. A história das accabadoras pode nos fazer refletir sobre como lidamos com o fim da vida e o sofrimento das pessoas que amamos.
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Texto: Dr. João Rizzo