O que a Fisioterapia pode fazer por você?
Às vezes muito, outras, nem tanto. Um tratamento fisioterapêutico bem sucedido depende de alguns fatores como, por exemplo, as características da lesão ou da doença, a competência do fisioterapeuta, a adesão do paciente ao tratamento. Dificilmente atingimos algum grau de sucesso na Fisioterapia sem a participação efetiva do paciente. Muitas vezes será preciso eliminar alguns hábitos, adquirir outros, enfim, vai dar um certo trabalho.
Uma das ferramentas mais importantes da fisioterapia no tratamento da dor músculo-esquelética são os exercícios, a atividade física. Exercícios demandam tempo, persistência. Eles precisam ser aprendidos, repetidos, treinados. Exercícios requerem comprometimento pessoal no processo de melhora, é assim que eles produzem resultados.
Diante da perspectiva de fazer exercícios, é comum as pessoas pensarem logo em academias cheias de gente sarada, música alta e vibrante; um ambiente não muito convidativo para quem está se sentindo fora de forma, desmotivado e, muitas vezes, ainda sentindo dor.
Fui procurada por uma paciente que estava com muita dor na região lombar. Segundo o que ela relatou, foi dormir bem e acordou quase sem conseguir se mexer. Levada para um serviço de emergência, foi medicada e orientada a repousar.
“A injeção que me deram no hospital ajudou, mas a dor voltou.” – disse.
Diante da persistência do quadro doloroso, ela procurou um médico que a diagnosticou com lombalgia aguda e a encaminhou para a Fisioterapia.
Ela chegou andando com dificuldade, levemente curvada para frente, passos pequenos, quadril rígido. Estava tentando não sentir tanta dor, limitando a própria mobilidade no que nós chamamos de postura antálgica. Fiz uma anamnese detalhada, buscando informações que pudessem me ajudar a entender o que estava acontecendo. No relato, apareceram informações importantes: “nunca fui de fazer exercícios, não gosto. Mas desde a pandemia piorei muito nesse quesito. Antes, eu andava bastante, fazia tudo a pé, depois, não saia mais de casa. E agora bate uma preguiça. Só de pensar, já canso.”
Começamos com alguns movimentos muito suaves visando relaxar a musculatura e aumentar a mobilidade. Coisas simples, como olhar para trás com leve rotação de tronco, em decúbito dorsal (deitada de barriga para cima), deixar os joelhos fletidos caírem para um lado e outro. Fomos vendo que se mover aliviava a dor e a sensação de rigidez. Além de produzir alívio, a paciente foi se sentindo mais segura para ir desmontando a postura antálgica. Ao final da sessão, ela já caminhava bem melhor. Combinamos que ela repetiria em casa os exercícios que fizemos na sessão de fisioterapia.
Voltei a vê-la três dias depois:
“Melhorei muito, finalmente consegui dormir, agora sinto uma dor que consigo tolerar. Não me impede de trabalhar nem de fazer as tarefas da casa. Me peguei gostando de fazer aquelas coisas que você me pediu. Sai sacudindo pela casa”. Ela se referia a um exercício que chamamos de “boneco de Olinda”, imitamos os braços soltos dos bonecos do carnaval de Olinda. Rendeu algumas gargalhadas e muito movimento.
A consolidação da melhora de um quadro de lombalgia depende da continuidade do que vinha sendo feito e da introdução de novas condutas. Seguir se exercitando e aumentar a intensidade dos exercícios é fundamental para essa paciente. Não só para ela ficar bem agora, mas também para evitar que o episódio se repita.
Foi decisivo para ela saber que existem inúmeras possibilidades de se manter ativo, em movimento. As academias são só uma delas. Conversamos muito sobre isso. Sobre buscar alternativas possíveis de serem mantidas a longo prazo. Sobre a importância de sentir satisfação em se mover, sobre como vale a pena o esforço de se engajar em uma atividade física em troca de ficar de bem com o próprio corpo. Com a participação ativa e o comprometimento do paciente, a Fisioterapia pode fazer muita coisa.