Dor na gestação e lactação

20 de outubro de 2021
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A gestação é um período de modificações gerais e locais no organismo materno, que envolvem diversos sistemas do organismo, entre eles o osteoarticular, digestivo, circulatório, respiratório, urinário, endócrino, nervoso e metabólico. É muito comum que as mudanças anatômicas e funcionais, que ocorrem no corpo da mulher durante o período gestacional, possam causar ou modificar síndromes dolorosas, especialmente as musculoesqueléticas.

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Mulheres com quadro de dor crônica, durante a gestação, podem ter associados a sua dor os desconfortos inerentes ao período, com agravação e perpetuação dos sintomas dolorosos, além da provável substituição ou mesmo suspensão dos esquemas terapêuticos em andamento.

Outro fator a ser levado em conta é o grande dilema em definir as intervenções terapêuticas, pois isso exige um planejamento adequado para oferecer analgesia com menor risco para a gestante e o feto. Sempre que possível, deve-se priorizar métodos não farmacológicos, evitando ou adiando as intervenções farmacológicas e/ou cirúrgicas.

Para escolher o medicamento é importante conhecer o perfil de segurança, as características e modos de ação dos fármacos nas diversas fases da gestação e amamentação. Com exceção de alguns, a maioria das medicações atravessa a placenta e alcança o feto.

PRINCIPAIS SÍNDROMES DOLOROSAS ASSOCIADAS À GESTAÇÃO

1. LOMBALGIAS

As lombalgias são um tipo de quadro doloroso muito frequente na gestação, geralmente determinado por diversas causas. As mais comuns são decorrentes de alterações posturais pelo útero aumentado, o relaxamento de ligamentos das articulações pélvicas, o aumento do peso corpóreo e o deslocamento do centro de gravidade, que geram sobrecarga na região lombar de magnitude suficiente para causar dor.

O diagnóstico se baseia principalmente na entrevista clínica e no exame físico. Os exames radiográficos devem ser evitados, especialmente no início da gestação, pois a exposição à radiação pode aumentar o risco de anormalidades no feto. O uso da ressonância magnética parece ser seguro por não utilizar radiação ionizante, embora os estudos não sejam conclusivos sobre seu efeito a longo prazo.

Em geral, a maioria das lombalgias do período gestacional pode ser aliviada com medidas físicas e comportamentais, associadas a um programa de exercícios físicos para prevenir novos episódios dolorosos. A acupuntura e agulhamentos podem trazer alívio ao processo doloroso. A escolha dos medicamentos irá depender da fase gestacional, da intensidade da dor e do mecanismo de ação dos medicamentos a serem utilizados.

2. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

Causa frequente de dor na gestação, caracteriza-se por dormência, queimação, formigamento e dor noturna, nas palmas das mãos e dedos polegar, indicador e médio. Pode ocorrer com mais intensidade em uma das mãos ou mesmo nas duas igualmente. É mais frequente no segundo e terceiro trimestres, devido ao maior acúmulo de liquido corporal e, em especial, na região. Geralmente melhora após o parto, normalmente após a quarta semana, mas pode se prolongar durante a lactação.

O tratamento consiste em meios físicos e acupuntura para alívio do quadro doloroso. Em casos mais graves com sintomas intensos pode-se infiltrar o túnel do carpo, ou mesmo imobilizar a região. Intervenção cirúrgica raramente é necessária.

3. TENOSSINOVITE DE QUERVAIN

Caracteriza-se por dor e inchaço na região do punho e polegar. Pode se instalar durante a gestação ou lactação. Comumente os sintomas são discretos durante os estágios finais da gestação, acentuando-se no pós parto, podendo persistir de forma prolongada durante a amamentação. O diagnóstico é clínico, através da entrevista e exame físico.

O tratamento conservador, como a imobilização do punho e do polegar, geralmente alivia os sintomas. Devem ser evitados movimentos repetitivos, especialmente os que incluem movimentos do polegar e de apreensão. Nos quadros mais intensos e persistentes, podem se utilizar infiltrações localizadas.

4. DOR PÉLVICA POSTERIOR

A dor na região lombar bem baixa, ou sacro ilíaca, e até mesmo do cóccix, é situação bem comum em gestantes, especialmente após a 18a. semana gestacional. A intensidade dos sintomas é maior conforme mais adiantada esteja a gestação e também tem relação com a idade materna. Acontece devido a modificações anatômicas estruturais do quadril durante o processo gestacional.

Pode ocorrer em crises, observando-se períodos melhores e outros piores, pode ocorrer apenas de um lado, mas as vezes nos dois. Pode estar associado sensação de peso na região pélvica, irradiando para a região das nádegas, coxa e joelho. O tratamento inicial se dá por meios físicos e acupuntura, que complementam o tratamento medicamentoso e são inócuos para o feto. Em casos mais graves e persistentes, pode se oferecer a opção de infiltrações ou bloqueios no local.

5. DOR ABDOMINAL

O diagnóstico de uma patologia abdominal aguda é mais difícil durante a gestação devido às alterações anatômicas e fisiológicas da gravidez que podem mascarar ou dificultar a identificação da causa da dor. Além disso, durante a gestação podem ocorrer intercorrências relacionadas ao feto e à placenta que simulam um quadro de dor abdominal. Todos os sintomas devem ser monitorados pelo médico assistente ou avaliados no serviço de emergência obstétrica.

O tratamento das dores crônicas e agudas durante a gestação e lactação constituem uma situação particular e desafiadora. Sempre é fonte de grande preocupação para a mulher, muitas vezes determinando o tratamento inadequado da dor ou a prática da auto medicação. A análise da situação de forma individualizada pela equipe assistente e pelos serviços de apoio melhoram os resultados finais.

Texto por: Dra. Monia Di Lara Dias – CREMERS 24449

Imagem: Envato

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