Por que usar a lidocaína no tratamento da dor?
Não é raro que pacientes ou mesmo colegas médicos de fora da medicina da dor questionem o porquê do uso do Anestésico local Lidocaína no alívio da dor crônica, por exemplo, no bloqueio de trigger points ou por via intravenosa, como componente do bloqueio simpático venoso. Importante ressaltar que o clínico de dor busca muitas vezes os chamados “efeitos não anestésicos” dos Anestésicos Locais.
Efeitos anti-hiperalgésicos e anti-alodínicos da lidocaína
Quem sofre de dor crônica sabe que, muitas vezes, alguns estímulos considerados inócuos, como um toque, ou mesmo um evento considerado capaz apenas de provocar uma pequena dor como uma punção venosa, são percebidos pelo indivíduo com dor crônica como doloroso no primeiro caso, ou excessivamente doloroso no caso da punção venosa.
Esses fenômenos são chamados pelos médicos como alodinia e hiperalgesia, respectivamente. Isso ocorre porque os pacientes com dor crônica sofrem uma alteração neurológica e encontram-se muitas vezes sensibilizados para o estímulo doloroso.
Muitos estudos têm demonstrado efeitos locais e regionais de redução desses efeitos deletérios após injeção de lidocaína intramuscular. Esses efeitos parecem não estar ligados apenas aos efeitos anestésicos da droga. A analgesia provocada pela lidocaína intramuscular tem mostrado efeitos analgésicos em estudos com diferentes estudos, controlando outras variáveis como o efeito placebo.
O racional do uso da lidocaína é sustentado e acredita-se que a repetição de bloqueios de nervos periféricos leve a dessensibilização das estruturas dolorosas contribuindo para um retorno da resposta dolorosa à normalidade.
Ação da lidocaína na transmissão da dor e no fluxo sanguíneo dos tecidos
Embora nenhuma anormalidade tecidual profunda consistente tenha sido identificada em pacientes com dor crônica generalizada (fibromialgia, por exemplo) alterações musculares locais, incluindo anormalidades no fluxo sanguíneo, têm sido relatadas. O efeito de dilatação dos vasos sanguíneos parece contribuir para diminuir a dor na contratura muscular (pontos gatilho) e reverter o sofrimento local do tecido devido á diminuição de chegada de sangue, com isso parece ocorrer uma diminuição na transmissão dolorosa mesmo em outros pontos dolorosos como os chamados “tender points” presentes na síndrome fibromiálgica.
Finalmente, é importante ressaltar que o uso de anestésicos locais, particularmente a lidocaína, não é feito pela medicina da dor com o intuito de anestesiar repetidamente a estrutura dolorosa, mas sim buscar os novos efeitos não anestésicos desse grupo farmacológico.
Referências usadas no texto
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