Dores no período pós-parto

O período pós-parto, também chamado de puerpério, é desafiador em muitos sentidos — tanto do ponto de vista físico quanto emocional. Fora do ambiente hospitalar, já em casa com o bebê, muitas mulheres enfrentam dores significativas e têm dúvidas sobre o que podem ou não fazer, especialmente em relação ao uso de medicamentos durante a amamentação.
Neste artigo, vamos abordar as principais causas de dor após o parto, as opções de alívio seguras para quem está amamentando e os cuidados que devem ser tomados para proteger tanto a mãe quanto o bebê.
Dor pós-parto: um cenário comum (e muitas vezes negligenciado)
No hospital, as dores agudas que surgem nas primeiras 48 horas após o parto — seja ele normal ou cesariana — são geralmente controladas com o apoio da equipe médica. No entanto, o cenário muda quando a puérpera vai para casa.
Ali, em meio à privação de sono, posições inadequadas durante a amamentação e a sobrecarga emocional, surgem dores persistentes, principalmente:
- Na região cervical e escapular, por permanecer longos períodos sentada ou com postura inadequada;
- Nas mamas, devido à amamentação e às possíveis fissuras ou ingurgitamento;
- Em outras áreas musculares, decorrentes de tensões miofasciais acumuladas.
Essas dores, embora comuns, impactam profundamente o bem-estar da mulher e, muitas vezes, não são valorizadas como deveriam.
Medicamentos: o que é seguro durante a amamentação?
Ao contrário da gestação, durante a lactação alguns medicamentos ganham maior margem de segurança e podem ser utilizados com tranquilidade, desde que com orientação profissional. Entre os mais comuns e seguros, estão:
- Paracetamol
- Dipirona (Novalgina)
- Opioides fracos (em alguns casos específicos e com acompanhamento)
- Anti-inflamatórios, em determinados períodos e com prescrição
É importante reforçar que muitos fármacos classificados como “categoria C” na gravidez passam para “categoria B” na amamentação, o que amplia as opções terapêuticas. No entanto, nenhuma medicação deve ser usada sem orientação médica — mesmo que pareça inofensiva ou tenha sido indicada por familiares.
Estratégias não medicamentosas também ajudam
Além dos medicamentos, outras medidas podem ser eficazes no alívio da dor pós-parto, como:
- Massagem terapêutica
- Fisioterapia (inclusive especializada em puerpério)
- Acupuntura
- Calor local, especialmente em regiões musculares tensionadas
Essas abordagens são importantes aliadas, principalmente para dores miofasciais — que são muito frequentes nesse período.
A importância do acompanhamento profissional
Durante a amamentação, o pediatra passa a ter um papel central nas decisões sobre medicamentos, pois tudo que a mãe consome pode, em alguma medida, ser excretado pelo leite. Em algumas situações, pode-se orientar a mãe sobre o melhor horário para tomar o medicamento, de forma a minimizar ou evitar a transferência para o bebê.
Nos primeiros dias, o leite produzido (colostro) excreta menos medicação, o que oferece uma janela segura para o uso de certos analgésicos — sempre com prescrição adequada.
Conclusão: não é preciso sofrer em silêncio
Sentir dor após o parto é comum, mas isso não significa que a mulher deva aceitar o sofrimento como parte do processo. Com apoio de uma equipe multiprofissional — incluindo obstetra, pediatra e clínico da dor — é possível fazer um manejo seguro, eficaz e individualizado.
O puerpério é uma fase sensível e exige cuidado, escuta e acolhimento. A dor pode (e deve) ser tratada com responsabilidade, para que a mãe possa viver esse momento com mais conforto e presença.
Esse texto foi desenvolvido com base na conversa entre o Dr. João Rizzo e a Dra. Monia Di Lara Dias, disponível na íntegra no YouTube do Projeto Educa Dor, além das plataformas de streaming em formato podcast de áudio.