Dor Pélvica Crônica
A dor pélvica crônica é um problema clínico complexo. Geralmente as pessoas percorrem vários médicos, de especialidades diferentes, para investigação, com a expectativa de que a causa da sua dor seja encontrada, tratada e a cura obtida. Embora o resultado seja bom em alguns pacientes, em outros casos, a etiologia não é identificada, o tratamento não resulta em uma cura e a dor permanece, muitas vezes se tornando mais intensa e incapacitante. Essa situação é frustrante para o médico e para o paciente, que busca opiniões médicas múltiplas, passando por inúmeras investigações negativas e tratamentos invasivos, sem resultado, por vezes com agravamento do quadro doloroso.
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Dor pélvica crônica é um termo amplo, que pode incluir as dores decorrentes de vários órgãos, estruturas e sistemas presentes no abdômen e na pelve. Frequentemente se associa a disfunções ginecológicas, urológicas, sintomas urinários, sintomas gastro intestinais, do assoalho pélvico e podem também estar ligadas a transtornos afetivos, sexuais e traumas psicológicos. Isso porque, na pelve, tem-se grande diversidade de vísceras, um amplo arcabouço musculoesquelético estrutural, que a envolve, sustenta, reveste e protege. Existe também uma rica e intrincada rede neural que inerva não só os orgãos presentes, mas também músculos, fáscia e estrutura óssea.
A dor pélvica crônica incorpora significados simbólicos particulares, gerando grande impacto negativo na qualidade de vida podendo resultar em depressão, ansiedade, comprometimento do funcionamento emocional, insônia, fadiga, incapacidade física, interferindo nas atividades diárias e nos relacionamentos interpessoais.
As causas que levam a cronificação de uma dor pélvica, ou pelviperineal não são totalmente conhecidas, pois trata-se de um processo complexo e multifatorial. Infecções, aderências, neoplasias, traumas locais, doenças inflamatórias, endometriose, espasmos musculares, fibromialgia, disfunções na inervação (neuralgias) são fatores desencadeantes que acabam servindo como ponto de partida para processos mais complexos que ocorrem no sistema nervoso central (medula e cérebro) que acabam amplificando e memorizando os estímulos dolorosos. Como resultado, forma-se um circuito que perpetua a percepção dolorosa, mesmo na ausência de lesões ou doença identificável pelos exames e investigações realizadas.
O controle da dor pélvica crônica requer cuidados clínicos sensíveis e empáticos, sendo necessária abordagem biopsicossocial geralmente sob cuidados de uma equipe multidisciplinar e com o envolvimento e participação ativa do paciente. Isso pressupõe a formulação individualizada de planos diagnósticos e terapêuticos que, frequentemente exigem a adoção de várias modalidades de intervenções concomitantes ou sequenciais para resgatar as funções operacionais dos diferentes sistemas, tanto no que se refere à parte biológica, como também a parte psicológica e possíveis desajustes familiares e sociais que contribuem para o sofrimento.
A remoção, quando possível, das prováveis causas, bem como a utilização de medicações analgésicas e outras que ajudam no tratamento multifatorial da dor (as que chamamos de fármacos adjuvantes), os procedimentos de terapias físicas e de reabilitação, terapia ocupacional, psicoterapia, acupuntura, os procedimentos anestésicos e neurocirúrgicos funcionais, quando aplicados de forma racional, podem proporcionar melhora na qualidade de vida e na sintomatologia em muitos pacientes com dor pélvica crônica.
Texto por: Dra. Monia Di Lara Dias – CREMERS 24449