Quais os maiores desafios para controlar a dor relacionada ao câncer?

Controlar a dor relacionada ao câncer é um desafio complexo que envolve diversos fatores, desde o acesso a medicamentos até barreiras culturais e estruturais no sistema de saúde. Embora cerca de 70% das dores relacionadas ao câncer possam ser tratadas com medicamentos, a realidade é que muitos pacientes enfrentam dificuldades no acesso a estes medicamentos.
Acesso a medicamentos e tratamentos
Uma das principais dificuldades no controle da dor é o acesso aos medicamentos analgésicos, especialmente os mais potentes, como os opióides. Em comparação com países como os Estados Unidos e nações europeias, o Brasil ainda enfrenta desafios logísticos e regulatórios que dificultam a distribuição desses medicamentos. Isso significa que muitos pacientes não conseguem alívio adequado da dor, impactando negativamente sua qualidade de vida.
Barreiras culturais e medo dos analgésicos potentes
Outro grande obstáculo é a resistência ao uso de analgésicos fortes devido ao medo da dependência. Muitas pessoas, incluindo pacientes e até alguns profissionais de saúde, acreditam erroneamente que o uso de opióides, como a morfina, pode levar ao vício. No entanto, a dependência química requer predisposição genética e um contexto específico, o que não se aplica ao uso controlado desses medicamentos para o alívio da dor. Esse tabu precisa ser superado por meio da educação e conscientização da população e dos profissionais de saúde.
Falta de profissionais especializados
A escassez de profissionais treinados no tratamento da dor relacionada ao câncer também é um fator crítico. Nem sempre os pacientes conseguem acesso rápido a médicos e equipes especializadas, especialmente nas unidades básicas de saúde. Isso agrava o sofrimento dos pacientes, que muitas vezes precisam esperar muito tempo por um atendimento adequado.
Propostas para melhorar o controle da dor
Para enfrentar esses desafios, algumas iniciativas podem ser implementadas:
- Criação de uma cesta básica de medicamentos: Garantir a disponibilidade de analgésicos essenciais para o controle da dor nos serviços de saúde pública, facilitando o acesso para a população mais carente.
- Treinamento de profissionais da saúde: Capacitar médicos, enfermeiros e demais profissionais para diagnosticar e tratar a dor relacionada ao câncer de forma mais eficiente.
- Expansão dos cuidados paliativos: Incentivar a criação de hospitais e centros especializados em cuidados paliativos, como o primeiro hospital 100% SUS voltado para essa área, recentemente inaugurado na Bahia.
- Maior envolvimento do poder público: Sensibilizar gestores e autoridades para que reconheçam a dor como um problema de saúde pública e implementem políticas eficazes para seu controle.
O impacto do controle da dor na qualidade de vida
A dor não afeta apenas o paciente, mas também seus familiares e cuidadores. Por isso, é essencial tratar a dor dentro de um contexto interdisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde. Além disso, iniciativas para ampliar o debate e promover mudanças estruturais podem fazer uma grande diferença na vida de quem enfrenta essa realidade.
Ao garantir um tratamento adequado da dor, não apenas melhoramos a qualidade de vida dos pacientes, mas também aumentamos a eficácia dos tratamentos oncológicos e promovemos um cuidado mais humanizado e digno.
Este texto foi baseado no bate-papo entre o Dr. João Rizzo e o Dr. Luciano de Oliveira sobre “Dor Relacionada ao Câncer”, disponível na íntegra no canal do YouTube do Projeto Educa Dor.
Texto por: Luciano de Oliveira e Dr. João Rizzo