Bursite Trocantérica

7 de junho de 2023
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A dor causada pela bursite trocantérica  é uma das queixas comuns em consultórios de Clínicas de Dor.  É também chamada de tendinobursopatia trocantérica de inserção, tendinite do glúteo médio e glúteo mínimo, entre outras denominações.

As bursas funcionam  como um amortecedor junto a proeminências ósseas e servem para proteção destas estruturas. A dor, nestes casos, é causada pela inflamação da bursa trocantérica, com acúmulo de líquido em seu interior, o que determina sua distensão levando ao quadro de dor.   A dor ocorre sobre a região do grande trocânter do fêmur, na face lateral da coxa, com irradiação para a região glútea, e que pode ir até o joelho sempre pela face lateral da coxa. Muitas vezes se torna um quadro de dor intensa, limitando a movimentação, não permitindo a realização de tarefas diárias sem que ocorra dor, piorando inclusive a qualidade do sono, pois o paciente não consegue  se deitar sobre o lado afetado, piorando assim sua qualidade de vida. A dor pode perdurar por meses se não for corretamente tratada.

Bursite Trocantérica
Fonte da Imagem: SBQ | Sociedade Brasileira do Quadril

Os tendões dos músculos glúteo mínimo e glúteo médio se inserem junto ao grande trocanter do fêmur (maior proeminência óssea na face lateral da coxa), que é facilmente palpável, sendo os principais envolvidos nestes quadros álgicos. Também o músculo tensor da fascia lata – trato íliotibial – atua sobre a região, podendo contribuir para o agravamento, pois aumenta a pressão sobre a bursa já inflamada.

Ocorre mais em mulheres, dos 40 a 60 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. O quadro aparentemente está relacionado com o formato da bacia (mais larga) e alterações hormonais que ocorrem na faixa etária citada (menopausa). 

A história clínica e exame físico minuciosos são fundamentais para o diagnóstico, exames de ultrassonografia e, quando necessário,  ressonância magnética confirmam o diagnóstico. Os exames também vão demonstrar se há tendinite ou outras lesões de tendões e alterações dos ventres musculares do glúteo médio e mínimo. 

Bursite Trocantérica
Ecografia demonstrando a distensão líquida da bursa trocantérica.

Na história clínica são comuns: dor ao caminhar; levantar-se de uma cadeira; subir e descer escadas; entrar e sair do automóvel com o movimento de abertura (abdução) do membro afetado;  artrose coxo-femural,; cirurgia prévia do quadril e/ou coluna; diferença de comprimento dos membros inferiores; doenças reumatológicas (artrite, gota); diabete; sobrecarga com exercícios ou atividades profissionais de repetição; sobrepeso; e contusões. Outras situações, como depósito de cálcio nos tendões e esporões ósseos, podem irritar a bursa. Hábitos como ficar muito tempo em inatividade física, ficar com pernas cruzadas e deitar-se sobre o lado afetado por longos períodos são comuns na história clínica do paciente.

Quadros como síndrome do músculo piriforme e ciatalgia podem ser confundidos com bursite trocantérica.

No exame físico a dor é o principal sintoma ao se palpar a região trocantérica, face externa da coxa e musculatura glútea. Manobras como a abertura (abdução) da coxa e elevação da coxa, entre outras, causam dor.

O tratamento da bursite trocantérica  tem como objetivo inicial o controle da dor, objetivando propiciar condições para que o paciente possa realizar o tratamento físico com melhor resultado. Inicialmente, o tratamento sempre é conservador, utilizando-se anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), analgésicos, corticosteroides (via oral ou intramuscular) e gelo no local. 

Se persistirem muito intensos os sintomas, apesar do tratamento conservador, pode ser necessária a infiltração da bursa trocantérica com corticosteroides. A cirurgia raramente é indicada (ressecção cirúrgica da bursa). 

Após obtido o controle da dor, devemos iniciar com medidas tais como: corrigir postura (RPG- reeducação postural global), fisioterapia objetivando melhorar o alongamento e reforço da musculatura dos músculos envolvidos. Pilates e hidroterapia também podem ser utilizados. Corrigir diferenças de comprimento entre os membros inferiores com palmilhas e/ou calçados, quando indicado. Colocação de travesseiro entre as pernas ao dormir de lado ajuda a estabilizar o corpo.  Evitar exercícios e movimentos de repetição que levem a maior estresse das estruturas envolvidas, tais como subir escadas, caminhadas e corridas longas. 

Importante lembrar que se trata de quadro que muitas vezes pode perdurar por meses, devendo ter o acompanhamento de fisioterapeuta até a plena regressão do quadro. 

Bibliografia:

Livros:

  • Macnally E G. Ultrassonografia do sistema musculoesquelético, 2ª ed., RJ, Elsevier, 2015.
  • Albrecht E, Bloc S, Cadas H, Moret V. Manual prático de Anestesia Locorregional Ecoguiada, págs. 123-125, 127-129, Livraria e Editora Revinter Ltda, 2016.

Artigos:

  1. Grimaldi A, Mellor R, Hodges P, Bennel K, Vicenzino B. Gluteal tendinopathy: a review of mechanisms, assessment and management. Sports Med. 2015; 45(8): 1107-19.
  2. Fearon AM, Cook JL, Scarvell JM, Neeman T, Cormick W, Smith PN. Greater trochanteric pain syndrome negatively affects work, physical activity and quality of life: a case control study. J Arthroplasty.  2014; 29(2): 383-386.
  1. Mayo Clinic (https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/bursitis/symptoms-causes/syc-20353242)
  2. OrthoInfo (https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases–conditions/hip-bursitis/)

Texto por: Dr. Marcos Sperb Bicca da Silveira – CREMERS 12381

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